sábado, 12 de março de 2011

COMIDA "BAIANA" QUE BAHIANO NÃO CONHECE

Dia desses, (dia desses não, acho que foi no ano passado) li a notícia numa página do jornal O Globo na Internet que o Gomes havia morrido. Quem? o Gomes? Estranhei no começo. Assim que atraquei o relé, lembrei de quem se tratava.  As lembranças me transportaram à Praça XV. Bem naquele cantinho perto da Estação das  Barcas, onde o Gomes costumava estacionar sua carrocinha de angu.

Somente depois de ter lido a matéria, fiquei sabendo o verdadeiro nome daquele homem e a sua origem: João Gomes da Silva, nascido em Portugal.

A Praça XV, no Rio de Janeiro, já foi um lugar de muito glamour em tempos passados.  Afinal, lá ficam o Paço Imperial e a Antiga Catedral, onde os eventos religiosos com a participação da Corte aconteciam.

Mas, a Praça XV que conheci já era outra.  Desde os anos 60, havia se tornado ponto de encontro da malandragem carioca e das pessoas que precisavam cruzar a Baía da Guanabara com destino a Niterói, via barcas.

E ali, bem na passagem para a entrada das barcas, ficava o Gomes com seu panelaço de angu, com a finalidade de matar a fome dos trabalhadores e dos malandros das noites cariocas. As centenas de pessoas que passavam por ali, alimentavam-se do Angu do Gomes.  

No Rio, esse tipo de angu é conhecido como "Angu à Baiana", uma iguaria feita com miúdos de boi, carne e linguiça e servida com uma espécie de polenta feita com fubá de milho. Seria um primo do nosso sarapatel.  Um sarapatel bovino, eu diria.  Embora, o angu seja "à baiana", ele não existe na Bahia.  É mais uma invenção do carioca.

O Angu do Gomes ficou tão famoso que logo, logo, atraiu até mesmo pessoas de bom poder aquisitivo.  Gente que ia à Praça XV só pra comer "angu à baiana".

Afirmam os mais antigos, que o "Angu à Baiana" do Gomes fora apreciado por gente muito famosa, a exemplo de Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Negrão de Lima, Sergio Cabral (atual governador do Rio), além de Tim Maia, Roberto e Erasmo Carlos, lá pelos anos 60.

Minhas paradas por ali eram consequência da passagem diária pela Estação das Barcas com destino a São Gonçalo e Niterói, onde morei alguns anos.

Com o passar do tempo e nas  minhas andanças pelas cidades da Baixada, observei que o "Angu à Baiana" tinha virado uma verdadeira febre na região metropolitana do Rio.  Podia ser encontrado em Nova Iguaçu, Nilópolis, Duque de Caxias, São João do Meriti e, até do outro lado das barcas, em Niterói e São Gonçalo.

Restaurante Angu do Gomes
Nos anos 90, quando morava na Tijuca, coração da Zona Norte da cidade do Rio, tive a oportunidade de matar a saudade da Praça XV, comendo angu na Saens Peña.  Nada comparado ao Angu do Gomes, que saia daquele panelaço fumegante, enfiado numa carrocinha sobre rodas, e  era servido em pratos de alumínio e em porções tão generosas que derramava pelas bordas.  E, de quebra, não tinha nada de coca-cola, grapette, guaraná ou fanta pra ajudar o grude a descer.  A bebida vendida pelo Gomes era Gingereio.   Já, na Tijuca, a bebida que acompanhava o "Angu à Baiana" era Mineirinho(Ah!  Já sei... Você não sabe o que é Gingereio nem Mineirinho!  É só  pesquisar na Web!).

Em 2008, o Angu do Gomes foi eternizado com a inauguração de um restaurante num dos centros da boemia carioca  -  a Praça Mauá. Endereço: Largo São Francisco da Prainha, 17, Praça Mauá, Centro, Rio de Janeiro. (vide fotos que ilustram este artigo)


Que o patrício Gomes, no céu, onde se encontra, possa estar servindo seu angu aos Anjos!



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