sexta-feira, 22 de abril de 2011

GUIA E MODELO

Nesses poucos mais de 60 anos no cárcere carnal  -  uma eternidade do ponto de vista material, mas uma insignificância no templo da vida eterna   -, pude experimentar as mudanças que o tempo nos impõe.  

A exemplo do que ocorre com muitos (imagino), o espelho sempre foi um companheiro inseparável. Nele, fiz "consultas" diárias... Vi-me refletido, falei comigo mesmo. Um pouco de narcisismo, vaidade, orgulho, mas sem as neuroses da fixação no próprio Ego. 

Nos primeiros anos, detinha-me a analisar apenas o aspecto físico. Com o transcorrer do tempo, fui melhorando minhas "consultas". Passei, também, a olhar criticamente a minha própria face; a perguntar-me sobre como as pessoas me enxergavam; qual juízo faziam de mim, das minhas falhas, das minhas falas, das minhas imperfeições!  Iniciei-me no aprendizado da auto-crítica...  Já não via tão-somente formas materiais, músculos, contornos, cabelos, etc. 

Com o tempo, até os aspectos relacionados ao juízo que pudessem fazer de mim deixaram de ser considerados nas auto-análises.  Entrava em cena uma exigência maior:  a de fazer uma "radiografia" da alma... algo que o tempo modifica mas não destrói .  

Meus questionamentos mudaram:  como estava o meu espírito? em que eu estava precisando mudar para estar bem com as Leis Universais? quais as tarefas recebidas e a serem cumpridas nesse rasgo de tempo que deveria permanecer na organização celular, etc.? 

Uma maior complexidade de pensamentos e busca de entendimentos surgia: que relação anterior teria com aqueles que se situavam ao meu derredor? quais os débitos e créditos existentes entre nós?  E os que não faziam parte do círculo familiar e de amizades?  aqueles com quem, eventual e esporadicamente, cruzava caminhos em qualquer lugar ou coordenada do orbe terreno? em momentos que pareciam pré-determinados, em situações propícias à geração de conflitos e desavenças?  

Foi assim que aprendi a abolir a necessidade do espelho para me enxergar.  Com o auxílio do espelho, podia enxergar uma parte de mim e, sem ele, com os olhos da alma, enxergava-me por inteiro.  Conhecendo-me um pouco mais e melhor, não tardaram os auto-julgamentos... Com reprimendas, corrigendas, mas, sem condenações extremas, sem tormentos, sem açoites. Pra empregar um termo muito em uso na Bahia, recebi (e ainda recebo) muitos "carões" de mim mesmo!  Eram (e ainda são) correções e mudanças conflitantes com interesses próprios...  Próprios dos que vivem num mundo de relações e aprendizados, como o nosso. 

Não sem conflitos, passei a estabelecer critérios nas minhas ações. Era preciso rever procedimentos, atitudes, comportamentos...  Precisava estar bem comigo mesmo, e, para isso, era essencial estar bem com todas as pessoas... Era preciso estar bem com Deus.  

Ainda que toscamente, busquei aproximar-me de um Modelo.  O Modelo exemplificado pelo Homem de Nazaré.  Quanto mais esforço fazia (e ainda faço), mais verificava (e ainda verifico) o quão distante me encontrava (e ainda me encontro) do Modelo escolhido.  

Não, não se deve desistir!  Para nós, seres eivados de imperfeições,  60, 80, 100 anos ou mais, é muito pouco para essa aproximação com o Criador.  Por enquanto satisfaz-me saber que nas idas e vindas desse meu espírito imortal aos mais diversos planos e "casas" do Pai, faz-se necessário o máximo proveito das oportunidades surgidas.  

É com esse espírito que escrevo estas poucas linhas desejando a todos inesgotáveis oportunidades  de renovação e de paz nesse dia em que relembramos o julgamento, a paixão, a crucificação, a desencarnação, o sepultamento e a "ressurreição" do Cristo Jesus.  

Que no Domingo que se aproxima, possamos todos refletir sobre os ensinamentos do Mestre inspirados nos mais diversos simbolismos e significados da Páscoa:  "Renascimento", "Ressurreição", "Passagem", "Renovação", "Iluminação..."

ASSIM SEJA!

FELIZ PÁSCOA!

(Autor: Souza Neto  -  22 de abril de 2011)

O HOMEM DE NAZARÉ  -  Antonio Marcos:

 

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