sábado, 14 de maio de 2011

O TÍTULO... VOCÊ ESCOLHE

Sol quase a pino, aquela sensação de vazio no estômago, começo a tomar o rumo de casa, quando...  
- Não faz sentido, Alethea!  -  ouço uma voz a poucos metros de onde estava.  
Volto-me na direção do quase grito e vejo o Absirto. Há muito que não o via, até estava com saudades, mas, àquela hora! Logo no instante em que meu estômago mandou uma mensagem pro meu cérebro e este havia comandado minhas pernas para viajarem na direção de casa!?  Tudo bem!  -  disse a mim mesmo  -  não vejo esse cara há um bom tempo... além do mais, o Absirto é a Personalidade em pessoa; é sempre um bom papo.
Sentamos no barzinho do Nacib e da Gabriela.  - Desce aí um chop preto!  - fui dizendo pro garçon (gosto da forma francesa). Mal havia pronunciado a última sílaba, Absirto foi dizendo:  
-  Você viu!?


- Viu o quê cara!  Explique-se!
- Viu não... leu...?  -  foi corrigindo.
- Leu o quê, velho?  -  continuei, cheio de interrogações.
- Viu o que está na Internet... o que algumas pessoas do Rio estão dizendo dos nordestinos, só porque o Ceará (a carroça desembestada) mandou o Flamengo pras cucuia?
- É... tenho acompanhado...  - disse sem muita empolgação  -  Mas, isso já havia acontecido nas últimas eleições com os paulistas...
- E você acha que é por que, isso?
- Ahn...  -  titubeei  -  ...acho que é porque o Nordeste hoje desponta como a região do país com o maior potencial de riquezas... está em franco processo de desenvolvimen...
-  E isso cria um certo ciúme?  -  interrompeu Absirto.
- Acho que sim.
- Agora, e sobre essa mania de bahiano e nordestino, de um modo geral, ficar torcendo pra times do sudeste e contra os de seus próprios estados?  Isso tem explicação?
- Difícil... mas creio que é por..., digamos, um pouco de falta de personalidade.  Nem todo mundo é como você, que é conhecido como "DE GRANDE PERSONALIDADE".
- E o que se pode fazer para resolver isso?
- Não sei, mas acho que o desenvolvimento do Nordeste e o tempo cuidarão disso.
- É, quem sabe!?  -  assentiu Absirto.
- Sabe o que ouvi esses dias no Pontal?  -  perguntei.
- Não! O quê?
- Ia passando, e ouvi um cara dizendo pro outro "Eu sou campeão carioca em cima de quem?"  - Olhei pro sujeito e ele não tinha cara de ter nascido no Rio, então pensei:  "Mais um bahiano regando a horta alheia!"
- É, concordo com você!  -  disse Absirto, um pouco conformado.
- E tem mais!
- O quê!  -  Absirto arregala seus grandes olhos e demonstra cara de espanto.
- O futebol do Rio está dando seus últimos suspiros!  -  afirmei.
- Como!?  -  reage Absirto mais espantado ainda.
- É isso... o futebol do Rio está em coma há muito tempo!  Você esqueceu que eu nasci debaixo de um secador de cacau, mas troquei o cheiro de mato e de amêndoas fermentadas pela fumaça de óleo diesel ainda moleque?
- Ah, é mesmo...
- Pois é... morei 31 anos por lá!  Conheci o futebol daqueles tempos... O futebol que atraiu torcidas do Brasil inteiro. Mas, a coisa mudou...
- Mudou!?
- É mudou sim!  No futebol do Rio, só tinha, praticamente, jogadores cariocas e fluminenses! Gente formada lá mesmo, nas bases! Aí veio a especulação imobiliária e extinguiu todos os campos de várzea da Guanabara.  Lembro-me que só Guadalupe (um bairro pequeno) tinha mais de 12 campos... Jacarepaguá, nem se fala... Tinha mais de 20 campos nos anos 60 e 70.  Hoje, onde havia campo, é conjunto habitacional da CEHAB ou condomínios de luxo.
- Hummm!!!  você tem razão... mas...
- Mas, não, mais!  E o "mais" é que, além da perda dos campos, veio a "geração vídeo game" e, agora, a "geração orkut". E, os meninos trocaram os esportes por...
- Mas, isso aconteceu em todo lugar!  -  foi dizendo Absirto.
- Sim, mas você não pode esquecer que o Rio (antiga Guanabara) é uma "merdinha", em termos de extensão territorial, quando comparado com os outros estados! Nesses outros lugares o futebol interiorizou-se.
- Humm!!!  -  assentiu Absirto, meio confuso.
- E outra... Para completar esses fatores negativos para o futebol carioca, veio a "fusão", em 73!  Com a fusão, o campeonato deixou de ser carioca.
- Como, deixou de ser carioca!?
- Ora, passou a ser "Campeonato Fluminense", ou seja, do Estado do Rio de Janeiro e não mais da Guanabara. E você sabe que "carioca" é termo referente somente a quem é da Guanabara... 
- É verdade! Mas como essa "fusão" trouxe prejuízos pro futebol do Rio?
- De várias maneiras... primeiro, clubes cariocas como Campo Grande, São Cristovão, Bonsucesso e até o América, perderam espaço para outros do interior; segundo, uma caterva de maus dirigentes assumiu a presidência dos times cariocas:  Emil Pinheiro (Botafogo), Eurico Miranda (Vasco), Dunshee de Abranches e George Helal (Flamengo), Francisco Horta (Fluminense) e, de quebra, veio o Caixa d'Água, do Americano de Campos dos Goitacazes, para assumir a Federação Carioca...
- Não é que você tem razão!
- Lembra do George Helal?  Foi o dirigente que vendeu o Zico para a Udinese por um valor menor do que o comprou de volta!  Você acredita nisso?
-  Parece que houve maracutaia, né!?
- E como?
- E o bicheiro Emil Pinheiro comprou um time inteiro e levou para o Botafogo e depois que saiu deixou o clube com o "pires nas mãos", vendendo todo mundo!  Não foi?  -  disse Absirto, demonstrando um certo conhecimento sobre o futebol do Rio.
- Foi!  Viu como você lembra!
- Mas... Alethea... agora, voltando ao caso dos Nordestinos que morrem de amores por times de futebol do Rio...
- Cara... acho que isso não tem jeito!  Pelo menos por enquanto. Vejo os pais "encaminhando mal" os meninos, vestindo-os com camisas de lá!
- Mas, ouço algumas tentativas de justificar, dizendo que os times daqui são fracos, pequenos, que não ganham campeonatos, etc.
- Cara, vamos pensar um pouco sobre isso...
- Vamos  -  disse Absirto.
- Você é capaz de me dizer o que faz um time ser grande e vitorioso?
- Sei... dinheiro!
- E você sabe, hoje, de onde vem a maior parte do dinheiro que os times de futebol recebem?
- Sei... da iniciativa privada... dos patrocinadores.
- Você é capaz de dizer o que faz um patrocinador investir "pesado" num time de futebol?  Como, por exemplo, contratar jogadores a "peso de ouro"?
- Humm... acho que o retorno financeiro, não?
- É claro!  E pra ter esse ret...
- ...É preciso propaganda nas partidas e ter uma grande torcida que consuma os produt...
- Certo!  Camisas, materiais esportivos variados e todo tipo de produto...
- Já sei!  Você quer dizer que é preciso ter uma torcida grande pra...
- Na mosca, cara!  Quanto maior o número de torcedores, maiores serão os investimentos dos patrocinadores!
- Deixa eu concluir: você quer dizer que quando bahianos e nordestinos, de um modo geral, estão torcendo para times de fora, deixam de atrair investidores para os times daqui!?
- Tá vendo!  Até você que não entende muito de futebol sabe!
- Também não precisa humilhar, né Alethea! Sei que você é conhecido como "VERDADE SUPREMA", mas, pega leve comigo!
- Desculpa, cara!  Mas, continuando, é como se você escolhesse a empada do adversário pra colocar a azeitona, entendeu!?
- Entendi! E ainda tem todo esse preconceito deles com gente, né?
- É!  Muitos daqui ficam "cheirando os fundilhos" deles e recebem ofensas e discriminação em troca.
- Você quer dizer que o povo daqui é besta!?
- Algo parecido... falta-lhes identidade... personalidade, mesmo...
- Como você disse no começo, pode ser que o desenvolvimento traga mudanças...
- Mudanças e maoir preconceito deles para conosco!  Você não pode esquecer que o Nordeste está sendo redescoberto! Nossos recursos natur...
- Entendi!  -  interrompeu Absirto  -  Rio e São Paulo tem esses recursos esgotados, né!?
- Sim!  É preciso dar tempo ao tempo... Contudo, não se pode deixar de investir em Educação por aqui!  Esse estágio de "pitecantropos" que a gente vê é reflexo da falta de investimentos na Educação!
- Concordo...
- Meu caro, tenho que ir! Tá mais do que na hora de dar uma "forrada" no "bucho". Especialmente depois dessas calderetas de chop preto...
- Falou velho!  A gente se vê...

Autor: Souza Neto

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